A diretoria da Febrapsi foi procurada recentemente por órgãos de imprensa para comentar trechos de entrevistas realizadas com a Dra. Natália Pasternak, microbiologista e divulgadora científica, a respeito de um livro escrito por ela e Carlos Orsi (jornalista), no qual ambos mencionam a psicanálise de forma negativa.
Antes de mais nada, temos um enorme respeito pelo trabalho de divulgação científica, tão necessário em tempos recentes, no Brasil e no mundo. Dra. Natália foi uma voz relevante ao longo da pandemia, defendendo a importância das vacinas, o distanciamento social e o uso de máscaras.
A Febrapsi e suas federadas também se opuseram à onda nefasta de negacionismo que custou tantas vidas e sofrimento ao país. Além disso, apoiamos vigorosamente o Projeto SOS, que proporcionou atendimento online gratuito para profissionais de saúde na linha de frente do combate à pandemia, bem como para adultos, adolescentes e crianças que adoeceram, perderam entes e amigos queridos em um dos períodos mais dolorosos de nossa história recente1.
Entretanto, no livro supracitado, Pasternak e Orsi dirigem uma série de críticas despropositadas à psicanálise. Os autores afirmam que a psicanálise é avessa ao contraditório e desvinculada do meio acadêmico, aqui e no exterior, e que Freud2 seria um fraudador contumaz.
Ora, a psicanálise e os analistas estão abertos e disponíveis para o debate crítico, que ocorre cotidianamente nas melhores Universidades e revistas científicas brasileiras há muito tempo. Psicanalistas lecionam e pesquisam há décadas nas faculdades de Medicina, Psicologia e Educação em instituições como a USP, a Unicamp, a UFSCAR3, dentre tantas outras Brasil afora. A psicanálise também se faz presente em instituições internacionais de renome, como por exemplo a Universidade de Columbia, à qual a Dra. Pasternak é ligada. Columbia possui, inclusive, um Centro de Treinamento e Pesquisa em Psicanálise reconhecido pela IPA, a International Psychoanalytical Association. Para mais informações, basta acessar https://www.psychoanalysis.columbia.edu/
A respeito das críticas sobre a falta de estudos clínicos randomizados (controlados com cegamento e tratamento estatístico de dados) ou a crença de que psicanalistas não dialogam com a comunidade científica mais ampla, recomendamos a bibliografia da disciplina de pós-graduação “Ensaios Clínicos Randomizados e Estudos Neurocientíficos na Produção de Evidências em Psicanálise”4, conduzida pelo Dr. Rogério Lerner, no Instituto de Psicologia da USP de São Paulo, como uma das fontes que podem ser acessadas pelos autores do livro para buscar o que tem sido produzido e publicado em revistas científicas, não apenas do campo psicanalítico, mas na área da saúde em geral, em diversos países, como: Psychotherapy and Psychosomatics, American Psychologist, Clinical Psychology Review, Lancet Psychiatry, World Psychiatry e Canadian Journal of Psychiatry, etc. A bibliografia da disciplina pode ser consultada por qualquer pessoa interessada em conhecer o que se pesquisa sobre o trabalho com pacientes em psicanálise ou em psicoterapias psicodinâmicas de base psicanalítica. Trata-se de uma boa introdução ao tema. Cabe mencionar que existem muitas outras formas de se avaliar o trabalho que se faz em psicanálise e de ter acesso ao que de melhor se produz cientificamente sobre temas psicanalíticos5.
Caso os autores queiram vir ao Congresso Brasileiro de Psicanálise, que ocorrerá em novembro na cidade de Campinas, terão uma excelente oportunidade para se atualizar a respeito do que os psicanalistas brasileiros ligados à Febrapsi e à IPA tem a oferecer de melhor em termos de trabalhos clínicos, teóricos, sociais, bem como a respeito de nossas colaborações com outras áreas, como as já referidas: medicina, psicologia, sociologia, educação, filosofia, artes, dentre outras.
Os psicanalistas seguem trabalhando, pesquisando e publicando cotidianamente, abertos ao contraditório e disponíveis para o debate, seja entre pares, seja com pesquisadores de outras áreas.