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Função da Psicanálise

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Em conflito com a própria personalidade e rejeitando quem de fato é (em grande extensão de forma inconsciente), uma pessoa não pode contar consigo mesma. Enfraquece, adoece, e fica cada vez mais à mercê dos grupos e da opinião alheia às quais não pode fazer face por não dispor de recursos com que contar. O que somos nunca pode atender às expectativas de outrem ou de grupos, nem às de nós mesmos. Contudo, se alguém for capaz de desenvolver uma intimidade com quem de fato é, seja lá o que isso venha a ser, poderá estar em uníssono e em maioria consigo mesmo e isso pode capacitá-lo a lidar com o fato de ser minoria em relação aos grupos a que pertence. Por sinal, qualquer um que considere e se valha do próprio discernimento, adquirido pela experiência e não por submissão a autoridades ou dogmas, sempre faz parte de uma minoria, mas ao não rejeitar aquilo que de fato é, poderá ter condições de negociar, enfrentar e lidar com esse conflito.

Considero que a única função de uma psicanálise é apresentar uma pessoa a ela mesma – a quem de fato é, não a quem acredita ser, ou considera que deveria ou seria o “certo” ser – para que possa, se assim quiser e se dispuser, “casar-se consigo”. Como ela mesma é a única pessoa de quem de fato não pode se separar, seria fundamental para sua qualidade de vida e possível felicidade que esteja num bom casamento com sua própria personalidade.

Ninguém escapa de ser quem de fato é

Mesmo que uma pessoa possa ter uma natureza como a do Japão, com terremoto, maremoto, vulcões, tufões, invernos rigorosos, pouca terra produtiva, o reconhecimento e respeito a essa natureza, considerando-a tal como realmente é, e não como seria bom que fosse ou como deveria ser, permite um grande desenvolvimento justamente por conta da necessidade de manejar e tirar partido dessa natureza. Brigar com ela ou negá-la certamente não resulta em boa coisa… E certamente o que lá fizeram evidencia o quanto de proveito conseguiram tirar dessa natureza. Como dizia Wilfred Bion: how to make the best of a bad job, ou como se diz em português: como tornar proveitoso um mal negócio. Obviamente o psicanalista não faz isso só. A cooperação e o interesse verdadeiro do analisando em conhecer a realidade, mesmo que a princípio possa se sentir muito incomodado com o que for percebendo, são fundamentais para a tarefa ir adiante. A atitude de verdadeira compaixão e simpatia humana por parte do analista é também fundamental. Isso só é possível para um analista que tenha tido ele mesmo a mais extensa e profunda análise de sua própria personalidade. E numa formação séria de um psicanalista essa é uma questão sine qua non.

Minha tarefa é a de auxiliar uma pessoa a usar seus próprios recursos psíquicos, aqueles que realmente tem, que são os passíveis de evoluir com o processo analítico, para pensar por si mesma. Paradoxalmente, o desenvolvimento da autonomia de um indivíduo e de sua possibilidade de pensar livre e criativamente é o que pode trazer as maiores contribuições reais para os grupos de que possa fazer parte. Basta considerar o exemplo de Freud.

Claudio Castelo Filho é membro efetivo e analista didata da SBPSP, doutor em Psicologia Social, professor livre docente em Psicologia Clínica pela USP. E-mail: claudio.castelo@uol.com.br

As opiniões dos textos publicados no Blog da SBPSP são de responsabilidade exclusiva dos autores.      



Comentários

6 replies on “Função da Psicanálise”

memi13 disse:

Belo texto! O “casamento com sua personalidade” ao invés de “cura da loucura” deve ser muito útil frente a preconceitos e se constitui num atraente convite. C ompartilhei nas duas páginas do Face… Parabéns

Suzan Veiga disse:

Texto muuuuito bom! Parabéns Parabéns Parabéns

Leonor Moraes de Seixas disse:

Lí os textos, gostei, aprecio muito o assunto.

Lorena Oliveira disse:

Acho que por isso a Psicanálise incomoda tanto. Ela traz à tona umas verdades ocultas sobre a natureza humana que nos recusamos a aceitar e reconhecer, talvez porque contrariem aquilo que gostaríamos de ser ou que gostariam que fôssemos. De todas as abordagens é certamente a mais honesta, a mais frustrante e decepcionante e também, a mais real.

Oneide disse:

Gostei, ,estou precisando de ajuda .Perdi meus dois filhos.Estou muito confusa.

Oneide disse:

Necessito de ajuda, pois perdi meus dois únicos filhos.

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