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O Mal-Estar na Adolescência: Dos Sofrimentos do Jovem Werther à Baleia Azul

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Ana Maria Stucchi Vannucchi

“Eu tenho medo de morrer sem ter vivido”

 Joana, 16 anos

 

Qual seria a tarefa do adolescente? Em que turbilhão se move? Temos que multiplicar por mil as observações de Freud sobre o sofrimento humano, o conflito entre o indivíduo e a cultura e sobretudo, o confronto entre impulsos de vida e morte, para nos aproximarmos das vivências do adolescente em seu processo de vir a ser  e de construir-se como pessoa. Que tarefa difícil! Quantos caminhos e descaminhos encontramos!

Temos primeiramente as mudanças corporais, que apontam a necessidade de considerar o emergir da sexualidade e da agressividade. Neste momento, o adolescente precisa construir uma nova mente, elaborando as perdas das vivências e do corpo infantil. Esta tarefa não é fácil, envolve muito sofrimento e muitas inseguranças, além de muitas aventuras e experiências novas, que geralmente implicam um perigoso limite entre vida e morte.

Quem não viveu situações limite entre a vida e a morte? Quem não viveu sonhos delirantes de mudar o mundo? Quem não pensou em desistir de tudo e morrer? Quem não pensou que o amor poderia  salvar o mundo? Quem não “tomou todas” para esquecer as mágoas? Estas experiências são fundamentais para que possamos aproximar-nos desta ponte longa e estreita, sem corrimão, que descreve a travessia adolescente. Como acompanhar alguém sem segurá-lo ou empurrá-lo? Como conversar com alguém que parou no meio da ponte e tem medo de continuar? Ou que quer se jogar da ponte para sumir desta vida? Como criar uma conversa possível, mesmo com a distância  geracional que nos separa?

Vou deter-me em três situações clínicas, ficcionalizadas por razões de sigilo e ética, para poder expressar meu pensamento e minha maneira de trabalhar com jovens.

Bárbara (22 anos) tem sua vida afetiva gravitando em torno da mãe morta, evidenciando profunda melancolia e culpa por estar viva e ter sobrevivido à mãe. Ana (15 anos) odeia os humanos e vive em guerra com todos, família, colegas, embora sinta-se muito só e excluída. Quando não suporta mais a dor mental, refugia-se no “quarto branco”, expressão suprema de desobjetalização. Luna (18 anos), ambiciosa e orgulhosa, vê-se estraçalhada  e feita em pedaços  depois de ser reprovada no vestibular. Sente que a vida perdeu o sentido e começa a “namorar a morte”.

Acredito que nestas travessias, estamos mais intensamente às voltas com o binômio morte/vida, como vemos nestes casos clínicos que menciono. Acredito que não se trata de algo próprio da contemporaneidade, mas sim próprio deste momento de mudança catastrófica em que o Ego desorganiza-se e fragiliza-se para acolher novas identificações, que lhe facultam des-envolver-se da mente infantil, e aproximar-se do  que Freud chamava de Principio de Realidade (1911). Como recuperar a esperança ao lidar com as questões do binômio ilusão desilusão? Como facilitar o surgimento de uma esperança realista, ligada à capacidade de enfrentar as dificuldades da vida?

Do meu ponto de vista, esta questão não é contemporânea, mas vem desde a Antiga Grécia, com Sófocles, em ‘Édipo em Colono’ e ‘Antígona’, com Sheakspeare em ‘Hamlet’,  com Goethe em ‘Os sofrimentos do Jovem Werther’, com Salinger, em ‘O apanhador no Campo de Centeio’, etc..Clássicos protagonizados por adolescentes que nos mostram como o trágico é constitutivo da adolescência.

Considero que a possibilidade do jovem ter um analista,  um terapeuta  ou mesmo alguém que o acompanhe nestes momentos de sofrimento, faz enorme  diferença, pois mitiga a solidão e oferece  uma oportunidade de encontro e vinculação afetiva.  Além disso, permite outros vértices de observação da experiência vivida, ampliando a capacidade de  sonhar/pensar, conter e transformar as emoções e recuperar o prazer de viver.

Ana Maria Stucchi Vannucchi é membro efetivo e analista didata da SBPSP.

 



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