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Transição de ciclos na SBPSP: Diversidade e Unidade

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Em 11 de novembro de 2024, a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo celebrou a passagem da antiga para a nova gestão. Esse é um ritual importante e um gesto que indica a saúde democrática de uma instituição. A sucessão de diferentes diretorias fortalece nossa diversidade, mas também nossa unidade.

A nova diretoria da Sociedade será composta por:

Diretora-Presidente: Magda Guimarães Khouri
Secretário-Geral: Rodrigo Lage Leite
Primeira-Secretária: Abigail Betbedé
Diretora Administrativa: Paula Freitas Ramalho da Silva
Diretora Financeira: Cibele Amaro Pires Rays
Diretora Científica: Raya Angel Zonana
Diretora de Atendimento à Comunidade: Silvia Maia Bracco
Diretor de Cultura e Comunidade: Eduardo de São Tiago Martins
Diretora Regional: Rosemary de Fátima Bulgarão
Diretora do Instituto: Regina Elisabeth Lordello Coimbra
Secretária-Geral: Celia Maria Blini de Lima
Secretária-Adjunta: Eliane Saslavsky Muszkat
Secretária de Seleção: Joice Calza Macedo
Secretária de Currículo: Elsa Vera Kunze Post Susemihl
Secretária de Acompanhamento: Marina Ramalho Miranda
Secretária de Análise de Crianças e Adolescentes: Iara Spada Bondioli de Souza Noto

 

Abaixo divulgamos o discurso de posse de Magda Khouri lido no dia 11:

Em primeiro lugar, parabenizo a Carmen Mion e toda sua diretoria e equipes, pelos quatro anos de trabalho intenso e dedicação à Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Agradeço ao mesmo conjunto de colegas pela disponibilidade e gentileza neste período de transição, em nossas tarefas de passagem de cargos e funções. Agradeço ainda aos nossos funcionários e demais colaboradores, sempre diligentes e competentes nas diversas ações que sustentam o dia a dia em nossa instituição.

Gostaria de retomar algumas questões apresentadas no ideário dessa nova diretoria, já divulgado a todo corpo societário.

Partimos do ponto de que nosso cotidiano é pautado pela clínica, representada em suas várias modalidades. Como membros da SBPSP, temos o privilégio de participar de um permanente debate no campo clínico, marca desta instituição. Imersos no nosso ofício, compreendemos a especificidade, a complexidade e a sutileza inerentes à experiência psicanalítica. Ao mesmo tempo, reconhecemos como a potência do método inventado por Sigmund Freud tem a possibilidade de se estender nas investigações dos fenômenos do mundo e da cultura.

Inspirados por Fabio Herrmann, retomamos a origem da palavra “clínica”, do grego ‘klinikós – klíno’, inclinar, ou ‘klíne’, leito. A ideia do autor sobre o “inclinar-se”, nos remeteu aos diferentes sentidos que guardam a atitude clínica. “Inclinar-se” à experiência do psiquismo e de suas diferentes formas de sofrimento, bem como ao discurso do sujeito para, junto dele, investigá-lo; “inclinar-se” sobre acontecimentos da história ou sobre a vida cultural, assim como sobre os movimentos da nossa instituição, envolvendo a formação que oferecemos e os desafios que a contemporaneidade lança sobre essa formação.

Diante desses desafios pensamos que um caminho possível seria: ‘Equilíbrio, lucidez e abertura ao pensamento – como forma de evitar a estagnação dos processos institucionais”. Nesse sentido, sabemos da importância de estarmos acompanhados por colegas, fazendo parte de uma comunidade científica, porque não há formação do psicanalista fora de uma experiência comunitária. 

Porém, o convívio nos grupos, o trabalho no coletivo têm sido um dos grandes desafios na situação histórica em que vivemos. Somos bombardeados por grandes guerras, pelo fanatismo político, pelas polarizações em grande escala, pelas teorias conspiratórias, pelos ainda desconhecidos efeitos da inteligência artificial e pelos já conhecidos efeitos das questões climáticas. Este cenário exige de nós, no contexto interno, um vigoroso empenho na busca de diálogo, para não sermos arrastados pelas ondas de acirramentos e surdez nas relações.

Por vezes, como psicanalistas, temos receio que o trabalho com a subjetividade se dilua se nos direcionarmos às questões da coletividade. Jean Oury, psiquiatra e psicanalista francês, nos alerta que singular não é oposto de coletivo nem é sinônimo de individual. Daí a importância dos grupos e das atividades coletivas e comunitárias, pois o coletivo é uma máquina de produzir singularidades.

Quero ainda destacar uma outra reflexão de Jean-Bertrand Pontalis, numa entrevista à Revista Veja em 2013. O autor comenta que Sartre sempre recomendava “pensar contra si próprio”, no sentido que sempre devemos desconfiar de nossas certezas, questioná-las antes de chegar a uma conclusão. Como comenta Pontalis, não é tarefa fácil “pensar contra si próprio”, mas Freud, por exemplo, construiu sua obra dessa maneira. Freud não teve medo de opor-se a si próprio, quando decidia rever os caminhos de suas ideias.

Duvidar das próprias convicções, assim como reconhecer equívocos, têm o potencial de interrogar perspectivas universalistas e homogeneizadas da psicanálise.

O movimento de “pensar contra si próprio” tende a favorecer a uma escuta do outro em sua radicalidade, sendo uma espécie de antídoto ao preconceito, à discriminação. Quando há disponibilidade para se surpreender nas experiências vinculares, o outro pode ser vivido como uma perturbação criativa.

Além da necessidade de continuar promovendo o permanente debate científico entre os membros da sociedade, reconhecemos o importante papel dos membros filiados na história da instituição, representados pela Associação dos Membros Filiados (AMF), com as suas potentes contribuições sobre novas realidades que nos interpelam.

Além de, apresentamos algumas atividades que desenvolveremos durante a nossa diretoria:

1.Manter o compromisso de encaminhar o projeto de diversidade e inclusão racial dentro da formação no Instituto Durval Marcondes, a ser desenvolvido pela Comissão Virgínia Bicudo.
2.Criação de uma clínica pública.
3.Desenvolver um comitê permanente com atenção ao debate público em relação a temas cruciais, como as propostas de regulamentação da psicanálise e o diálogo com as ciências e outros saberes.
4.Na tentativa de promover o diálogo entre os vários setores da Sociedade, propomos um trabalho transversal entre as diferentes diretorias, o Instituto Durval Marcondes, os vários Grupos de Estudos ligados à Diretoria Científica e nossos inúmeros autores.

Nos vários projetos que se desenham nesta diretoria, encontramos um elemento comum. Trata-se de uma fala erotizada, que carrega o prazer da inconclusão, uma fala que quer continuar. Uma tentativa de buscar essa palavra erotizada, passando pelo ficcional, considerar a nossa permanência incidental na história e se deixar tocar pelas reflexões de pensadores de outras áreas de conhecimento. 

Obrigada,

Magda Khouri
Presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo 

As opiniões dos textos publicados no Blog da SBPSP são de responsabilidade exclusiva dos autores.  



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