Transtorno Obsessivo-compulsivo: rituais, manias e aprisionamento.
Home Blog notícias Transtorno Obsessivo-compulsivo: rituais, manias e aprisionamento.Rituais e manias, em alguma medida, fazem parte do nosso dia a dia e o ideal é que sejam formas de nos ajudar com a organização da rotina, das nossas tarefas, ou mesmo no trabalho. Mas pode não ser sempre assim. A partir do momento em que tais comportamentos tornam-se imperativos e controlam a vida do indivíduo, causando sofrimento e prejuízo em sua vida social e emocional, podemos estar diante de um transtorno grave, que requer tratamento. Confira na sequência mais informações sobre transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), e sinta-se à vontade para deixar comentários e dúvidas.
Transtorno Obsessivo-compulsivo: rituais, manias e aprisionamento.
O Transtorno Obsessivo Compulsivo, mais conhecido como TOC, é um Transtorno Mental caracterizado pela presença de ideias estranhas e incontroláveis que atormentam incessantemente o sujeito, e pela constante luta contra esses pensamentos. Há também compulsão a realizar atos indesejáveis, rituais esconjuratórios e um modo de pensar ruminante. Pensamentos mágicos e dúvidas que levam à inibição do pensamento e da ação, também fazem parte do quadro (esses pensamentos dominam as ações da pessoa e impedem que ela se comporte livremente).
Segundo a psicanalista Luciana Saddi, membro da SBPSP, nas primeiras iniciativas de se estudar os transtornos mentais, entre 1894 e 1895, a neurose obsessiva foi isolada por Freud de outros sintomas psiquiátricos. Naquele momento, Freud compreendeu-a como um quadro psiquiátrico autônomo e independente, pertencente à família das psiconeuroses. Na época, os médicos consideravam que era uma degeneração e que o quadro era incurável.
De acordo com ela, atualmente, na Psicanálise, fala-se em uma estrutura mental obsessiva ou em traços obsessivos de personalidade e a formação dos sintomas ocorre quando conflitos irremediáveis, recheados de afetos intensos e simultâneos de amor e ódio surgem e, por algum motivo, não se resolvem. Diante disso, nasce a necessidade de controlar a vida pulsional e desviar a sexualidade e a agressividade para fins aceitáveis. Mas, como é característico das formações sintomáticas, o ‘tiro sai pela culatra’ e a defesa se torna adoecimento. No caso desse transtorno, os mecanismos de defesa mais evidentes são: o deslocamento de afetos para ideias distantes das que originaram o conflito e o isolamento, que quebra as conexões do pensamento, e desliga o sujeito de sua própria história e de seus afetos.
Segundo a psiquiatra e psicanalista Suzana Grunspun, esse é um dos transtornos mais prevalentes na população e considera-se que sua variabilidade clínica e diversidade de sintomas são fatores complicadores de diagnóstico. Isso preocupa a Organização Mundial de Saúde (OMS), pois o TOC é considerado uma doença incapacitante.
Desde a década de 50 a Associação Psiquiátrica Americana publica o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, cujo objetivo é fornecer uma fonte segura e científica para fundamentar a pesquisa e a prática clínica. A psiquiatria preconiza a identificação de sintomas, segundo as normas estabelecidas pelo manual DSM V, para fins de diagnóstico e para o tratamento dos pacientes. A psiquiatria não se dedica tanto, como a psicanálise, à compreensão dos aspectos emocionais que podem estar subjacentes ao quadro estabelecido.
No DSM V, o TOC é descrito pela presença de obsessões, compreendidas como pensamentos repetitivos e persistentes, imagens ou impulsos e/ou compulsões que são comportamentos com rituais repetitivos ou atos mentais, nos quais a pessoa se vê obrigada a fazer em resposta a uma obsessão. O psiquiatra, baseando-se na presença quantificada de obsessões e/ou compulsões e a partir de critérios estabelecidos, proporá o diagnóstico. Atualmente, existem medicamentos indicados para o tratamento, que devem ser prescritos com rigor e que ajudam no alívio dos sintomas. Isso reduz a carga de sofrimento do indivíduo e propicia uma melhora em sua qualidade de vida.
Mas como a Psicanálise compreende o TOC?
Como se sabe, a noção de inconsciente é fundamental na Psicanálise e, segundo Luciana Saddi, no núcleo desse sofrimento e desse conjunto de sintomas está a imperativa necessidade inconsciente de controlar. Controlar afetos indesejados, ideias que podem surgir de repente causando desordem ao sujeito e impulsos de natureza sexual ou hostil que perturbam a ordem estabelecida. Se juntarmos a necessidade de controle com o pensamento mágico e acrescentarmos, nessa equação, a confusão entre desejo e ação, teremos todos os ingredientes para a estrutura mental obsessiva.
Além do tratamento com medicamentos, também a análise pode contribuir para a melhora dos sintomas. Analista e analisando trabalham no sentido do surgimento de um saber singular sobre o sujeito em análise. Trata-se, assim, de identificar as entranhas que dão suporte aos sintomas, aquilo que está na base dessas defesas. Procurar eventuais explicações sobre como se formam tais pensamentos e afetos que geram os sintomas não é, na Psicanálise, o foco do tratamento. O discurso do paciente revela uma verdade intrínseca a ele e o trabalho de análise oferece uma oportunidade única: o analisando pode ser escutado por alguém que não participa de sua vida familiar e que não deseja lhe impor nenhuma verdade ou saber pronto. O analisando pode falar e se escutar ou se calar. O espaço é livre de obrigações e performances, e a ideia é que, por meio de trocas e experiências que só dizem respeito àquela dupla, seria possível chegar aos núcleos inconscientes que mantém os sintomas ativos.
Em relação à cura, sim, ela pode ser alcançada em muitos casos. Em outros, trabalha-se em busca do abrandamento dos sintomas, para que o sujeito possa seguir com sua vida, sem tantos prejuízos. O importante é que as pessoas busquem ajuda, pois existe sim tratamento, tanto do ponto de vista psiquiátrico como psicanalítico. Se vai haver a supressão total da sintomatologia, ou apenas seu abrandamento, é impossível saber de antemão. O que se sabe é que atualmente as ciências da área da saúde dispõem de recursos que se complementam e que não só podem como devem ser utilizados em conjunto, buscando o alívio do sofrimento e a recuperação da energia de vida que os transtornos mentais subtraem dos indivíduos.
Fontes:
Luciana Saddi – mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, psicanalista e membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP).
Suzana Grunspun – psiquiatra, psicanalista e membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP).
6 replies on “Transtorno Obsessivo-compulsivo: rituais, manias e aprisionamento.”
Quanto a mim, inda que sem diagnóstico proposto e um avaliação psicológica cuidadosa, o TOC (se é que posso nomear meus sintomas) permanece como uma instância conservadora de mim, uma elaboração de autoconservação impiedosa e dolorida. Impiedoso e de dor, porque apesar dos meus pensamentos e ações parecerem sonantes, não o são. Existe um complicador que é a culpa, de não terminar o pensamento na ação. Um inter jogo com trato injusto: se eu não retornar a todas as maçanetas das portas da minha casa e certificá-las do fechamento, por exemplo, então eu vou estar exposto a um algoz que adentre e pá. Se eu não certificar das janelas, do travesseiro sem insetos e da chave do gás que está fechada( eu sei que fechada está, mas eu tenho necessidade de comprovar meu suposto saber), eu não ficarei confortável. O sentimento de punição é pujante, incontrolável, primitivo do pensamento e a “quem” eu me submeto diariamente. Sim, são vozes. Tão representativas como ordenanças paternas que ficaram internalizadas desde o verão de 2005, talvez, não sei.
• Eu desconheço a quem serve o meu comentário, mas faço-o à título da intensidade última que me percorre.
Há tratamento para alívio da compulsão:com medicamentos e acompanhamento psicológico de um especialista na área dos distúrbios do comportamento. Busque ajuda.
Obrigada pelo seu comentário tão descritivo do que ocorre. Gostaria de encontrar um/uma psicanalista que tenha algum caso de sucesso no tratamento dessa neurose, que me acometeu ainda criança. Uma busca que já dura mais de minha meia vida. Será que consigo uma indicação?
Em minha vida, de estudante, ainda persisto, de uma forma de teimosia, apesar de já ter abusado de álcool e maconha. Em províncias como, tal, a cidade que moro(ou mesmo, quando em paranóia), sobrevivo…EXistem soluções…Ou quem sabe não!Mas quando o não é não! ”Tenho que pegar firme”, pois existem dores nesse ”meu mundinho”, desde que, não seja mundano. Será que, por sobrecarga de estudos ou prática de esportes, em treinamentos determinantes, num recente passado, tento ao menos, sobreviver.”Esquizoafetivos”, humanamente, apóstrofo. Será que, tomando meus remédios(medicamentos), corretamente, serei capaz de lidar com pessoas mais velhas? Ou quem sabe, vou além, apesar da vida ser dura, manias de perseguições.
Em suma, chupar uma laranja, abandonar o vício do café e do cigarro. Mas essa vida conturbada que eu e meus pais vivemos em São Paulo, ao mudarmos de cidade, poderiam causar (multi-fatores), mas ainda tento esboçar, segundo alguns mestres da ciência, uma árdua vida de estudante.Mas, sigo o tratamento, apesar de ter recaídas.
Meu interesse na área da mente humana vem desde muito cedo,mas de uns tempos pra cá,venho me aprofundando melhor sobre o assunto. Há pouco mais de 5 anos comecei a conviver com uma irmã que tive pouco contato,apenas até os meus 15 anos,à partir daí,saí de casa e fui viver independente. Mas com o convívio de agora percebi que ela possui algum tipo de transtorno,são variados os sintomas que vão de pensamentos suicidas,até isolamento por vários dias. Ela não aceita o fato de que precisa de ajuda,nos conversamos sempre e já falei pra ela buscar ajuda,pois ela realmente precisa,mas ela se nega a aceitar e a querer falar com uma pessoa estranha. Por querer ajudar e a entender,Comecei pesquisar e ler sobre o assunto,mas está cada vez mais difícil.
Eu fumo e tenho pensamentos possíveis na hora do sexo com minha esposa e atrapalhar tudo