Dias Perfeitos
Dias Perfeitos apresenta Hirayama (Koji Yakusho), um homem de meia idade que vive solitariamente, de forma modesta, e trabalha como zelador e faxineiro de banheiros públicos em Tóquio. Hirayama tem rotina metódica. Inicialmente a trama se concentra em revelar o dia a dia do personagem e o cuidado meticuloso com que exerce seu ofício. Evidencia também os gostos e prazeres de uma vida simples embalada pela música, literatura e belas fotografias de árvores, que mesclam luz e sombra, feitas pelo próprio Hirayama. A vida parece estar sob controle sem faltas e angústias. A atmosfera da primeira metade do filme é de contemplação e repetição. Observa-se a presença radical do estar aqui e agora. Com a progressão da trama, encontros inesperados surgem e revelam o passado oculto do metódico zelador, que é obrigado a despertar do sonho de tranquilidade e calmaria para enfrentar conflitos e medo. A segunda metade da trama nos transporta para a difícil aceitação da transitoriedade. O protagonista luta contra a percepção da passagem do tempo na forma de recusa à aceitação de tecnologias mais avançadas. Hirayama prefere as fitas cassetes, por exemplo. Angústias provenientes das vivências de perdas transparecem no enredo. Amores frustrados, a presença perturbadora da morte e da agressividade humana agravam ainda mais o estado de perturbação de Hirayma. Win Wenders se encontra entre os poucos cineastas capazes de ilustrar o efeito do desejo, tema psicanalítico por excelência, com tamanho rigor e poesia.
Debatedores:
Eunice Nishikawa é médica e psiquiatra pela UNIFESP - Escola Paulista de Medicina.
Psicanalista, membro efetivo e analista didata da SBPSP. Analista de crianças e adolescentes pela SBPSP. Membro da Internacional Psychoanalytical Association (IPA).
