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CICLO DE CINEMA E PSICANÁLISE | FILME: A GAROTA DA AGULHA

A Garota da Agulha, de Magnus von Horn, indicado ao Oscar de melhor filme Internacional em 2025, é uma obra perturbadora. Em Copenhague, após a Primeira Guerra Mundial, a jovem operária Karoline (Vic Carmen Sonne) se envolve amorosamente com o dono da fábrica em que trabalha. Sonha em constituir família e  casar com o encantador e poderoso burguês, mas perde o emprego e é abandonada pelo patrão ao engravidar. Para completar o quadro de pobreza e desespero o marido, ex-combatente, que havia desaparecido na guerra retorna, mas está irreconhecível por conta dos ferimentos sofridos. Abandonada, miserável e grávida conhece Dagmar (Trígono Dyrholm), que possui uma agência de adoção clandestina disfarçada de loja de doces e lhe oferece um meio de subsistência. Karoline e Dagmar criam forte vínculo que parece garantir um futuro melhor para a jovem e seu bebê, até que surge uma revelação inesperada e chocante sobre a verdadeira natureza do trabalho de Dagmar.
 
Os horrores da guerra sempre foram explorados pelo cinema. A destruição não se restringe ao campo de batalha também é transferida para a sociedade como um todo. Os traumas gerados impregnam o pós-guerra, historicamente marcado por crise social e econômica. Muitos estudiosos apontam que a segunda guerra mundial poderia ser compreendida como continuidade da primeira. Afinal, o pós-guerra teria sido terrivelmente doloroso, portanto, incapaz de cicatrizar as feridas abertas pelo confronto, ao contrário, acirrou-as. A trama faz uma reflexão profunda sobre os desamparados ao contar a história de mulheres levadas ao extremo para sobreviver no contexto de terra arrasada.
 
Em artigo de 1915, quando a primeira grande guerra estava no auge, Freud escreveu o ensaio “Considerações atuais sobre a Guerra e a Morte”, destaco uma passagem dessa reflexão: " A guerra ... derruba, com cega cólera, tudo o que lhe aparece pela frente, como se depois dela já não houvesse de existir nenhum futuro e nenhuma paz entre os homens. Desfaz todos os laços da solidariedade entre os povos combatentes e ameaça deixar atrás de si uma exasperação que, durante longo tempo, impossibilitará o reatamento de tais laços”.
 
Acrescento uma reflexão a partir de A garota da agulha: a guerra também gera destruição dos laços sociais entre humanos não combatentes de um mesmo Estado que sofrem de estranha contaminação; o vírus da guerra se infiltra no tecido social do pós-guerra dando continuidade à brutal luta pela sobrevivência e à carnificina.
 
Debatedores:
Helena Cunha de Ciero é psicanalista. Formada em psicologia (PUC-SP) e especialista em psicoterapia psicanalítica (USP). Membro efetivo (SBPSP) e docente do Instituto Durval Marcondes. Colunista da revista Amarello. Autora dos livros pela editora Quelônio: O que enxerguei quando seus olhos ficaram opacos e Instantes de dentro.
 
Humberto Silva é professor de história do cinema na FAAP e crítico de cinema. Escreve com regularidade para o site CinemaEscrito. Autor de vários livros sobre cinema, com destaque para "Glauber Rocha - cinema, estética e revolução", publicado pela Paco Editorial em 2016.
08/04
19h
Auditório MIS

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